Excesso de textos em português e questões matemáticas que exigiam mais domínio do conteúdo do que habilidade, tornaram a segunda prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) cansativa e difícil, segundo alunos ouvidos pelo Diário.
A maioria dos estudantes inscritos esperava que o exame repetisse o modelo cancelado em outubro por suspeita de fraude, e em seguida, disponibilizado na internet em forma de simulado. A avaliação não era conteudista e cobrava mais habilidades e competências.
"A prova foi chata e cansativa. Fazer o aluno responder 180 questões (90 por dia) é um exagero. Nem concurso público pede isso. Chutei metade das respostas. Em português foi muita interpretação com textos longos. Não aguenta mais nem ler", afirmou Natália Andretta, 24 anos. Ela prestou o Enem para disputar uma Bolsa de Estudos no ProUni (Programa Universidade para Todos) e conseguir concluir a faculdade, trancada há dois anos.
Inscrito na Fundação Santo André, Alex Rezende, 23, também considerou o exame cansativo. "Tinha de ter paciência e atenção para ler tudo." Entretanto, ele não teve dificuldades no campo da matemática, até porque cursa o primeiro ano de Engenharia Mecatrônica e está acostumado com o campo das exatas.
Para a auxiliar administrativa, Amanda Ramiro de Andrade, 20, a maior dificuldade foi nos cálculos. "Português foi tranquilo. Era só prestar a atenção. Muitas vezes a resposta estava no próprio enunciado. Agora em matemática foi cobrado muito conteúdo."
RESULTADOS - O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) liberou as provas e os gabaritos no site www.inep.gov.br.
Os candidatos, no entanto, só conhecerão os resultados no dia 5 de fevereiro de 2010, quando haverá o anúncio oficial do governo federal.
Baseado no modelo TRI (Teoria de Resposta ao Item), o novo Enem avalia a proficiência do candidato minimizando grau de acertos por sorte e aponta habilidades e deficiências. Por isso, um aluno que teve menor pontuação do que outro pode apresentar resultado melhor, se os acertos deles concentraram-se nas questões que tinham maior peso.
Redação mantém filosofia e traz corrupção como tema
Corrupção e ética foram os temas da Redação do Enem. Seguindo a filosofia dos últimos anos, o exame abordou um assunto atual, voltado à realidade social e mesclou textos verbais e não verbais. No repertório, o candidato contou com uma charge de um menino em um local vazio, semelhante a um deserto, em busca de pessoas honestas.
"O aluno antenado com o contexto social, com certeza se deu bem. Mas era importante que ele apresentasse no texto uma proposta de intervenção para acabar com a corrupção. Uma proposta com ressalvas, claro, para não cair na utopia", comenta a professora de Redação e Gramática do Anglo, Roberta Roque Baradel.
Para o operador de empilhadeira, Udson Prudencio Santana, 54 anos, a redação foi fácil, pois permitia várias abordagens. "Falei um pouco do paradoxo em viver em um País rico em recursos naturais, mas que com tanta corrupção não permite vida digna a muitos", contou, ontem, na saída da Uniban (Universidade Bandeirante). Ele pretende utilizar a pontuação do Enem para ingressar na universidade e reivindicar uma promoção no trabalho.